Estudo da Condução Nervosa Sensitiva

A condução nervosa sensitiva utiliza os mesmos princípios da condução motora com a diferença de que os eletrodos de registro e de estímulo são posicionados ambos sobre o nervo em estudo. Como as fibras sensitivas são mais susceptíveis à lesão que as motoras, o estudo da condução nervosa sensitiva é mais sensível para detecção precoce de neuropatias.

O estudo da condução sensitiva pode ser realizado pelo método ortodrômico ou pelo método antidrômico. No método ortodrômico, o nervo sensitivo é estimulado distalmente e os eletrodos de registro são colocados proximalmente. Assim o estímulo sensitivo percorre o trajeto natural da periferia para o centro. Já o método antidrômico utiliza a técnica inversa, ou seja, estimula-se o nervo proximalmente e registra-se o potencial de ação distalmente. As latências e as velocidades de condução sensitivas são iguais, utilizando ambos os métodos. Entretanto, as amplitudes dos potenciais de ação de nervosos sensitivos (PANS) são maiores com o método antidrômico, pois a distância entre o eletrodo de registro e o nervo é menor. Por outro lado, como normalmente se estimulam fibras motoras adjacentes juntamente com as sensitivas pode-se ter um potencial motor contaminando o registro do potencial sensitivo. Devido a esse aspecto, a ausência de um PANS antidrômico não deve ser sempre interpretado como evidência de anormalidade.

Em nosso laboratório procuramos utilizar o método ortodrômico sempre que possível, pois é mais fácil de interpretar por não haver contaminação do PAMC adjacente e por ter um campo diagnóstico maior que o método antidrômico. Entretanto, qualquer dos métodos pode ser utilizado desde que sejam utilizados os valores normais de referência para cada método usado.
Em virtude da junção neuromuscular não estar sendo estudada, para obter a velocidade de condução sensitiva basta dividir a distância entre o ponto de estímulo e de registro do potencial pela latência entre os dois pontos, mesmo nos segmentos distais do nervo. O potencial de ação sensitivo é conhecido como potencial de ação nervoso sensitivo (PANS).

A amplitude do PANS também representa o número de fibras nervosas sensitivas de grande calibre estimuladas. Diminuição da amplitude do PANS é um indicador útil e sensível de anormalidade de um nervo. Entretanto, não pode ser utilizada para localizar a lesão. Devido aos fenômenos fisiológicos de cancelamento de fase e dispersão temporal, a amplitude do PANS é dependente da distância entre os eletrodos de estímulos e de registro. Quanto mais próximos do eletrodo de registro for o estímulo, teoricamente maior será a amplitude. Por esta razão, as amplitudes no estudo da condução sensitiva pelo método ortodrômico são bastante variáveis e somente devem ser interpretadas como anormais se abaixo do limite inferior do normal. Pela mesma razão, é muito difícil a identificação de bloqueios de condução no estudo sensitivo.

A latência pode ser medida através da deflexão inicial positiva (para cima) do PANS, onde as fibras de condução mais rápidas do nervo estarão sendo medidas ou através do pico negativo onde a média das fibras estarão sendo estudadas. Como não há diferença significativa em termos de resultados com qualquer um dos dois métodos, em nosso laboratório preferimos medir a latência de pico, que em nossa opinião é mais confiável, pois nem sempre conseguimos obter uma deflexão positiva inicial no PANS com eletrodos de superfície.

A duração do PANS registrado com eletrodos de superfície não tem importância prática, pois o reconhecimento de dispersão temporal é difícil ou impossível nestes casos. Entretanto, quando utilizamos eletrodos de registro de agulha, a dispersão temporal pode ser facilmente reconhecida, indicando uma lesão desmielinizante.

A condução nervosa mista estuda a parte sensitiva de um nervo misto (com fibras motoras e sensitivas). Também é realizada pelo método ortodrômico, ou seja, estimulando a porção distal e registrando o potencial de ação nervoso misto (PANM) proximalmente. Como as medidas de latência, amplitude e velocidade são idênticas aos do estudo de condução nervosa sensitiva, na prática nós chamamos os potencias de ação mistos de PANS. A única diferença é que as fibras motoras também são estimuladas.

Para a realização do estudo da condução nervosa sensitiva e mista devemos obedecer aos seguintes passos:
•Posici one os eletrodos de registro na superfície do nervo que se deseja estudar, sendo o eletrodo ativo mais próximo do eletrodo estimulador, e o eletrodo de referência a 3 cm do ativo.
• Estimule as fibras nervosas sensitivas com estímulo supramáximo, obedecendo aos mesmos princípios da condução motora.
• Quando o potencial de ação nervoso sensitivo (PANS) não for facilmente obtido, devemos diminuir a impedância da pele nos pontos de registro e estimulação. Isso pode ser obtido com uma pequena lixa de pele embebida em um pouco de soro fisiológico.
• Em algumas circunstâncias onde a amplitude do PANS é muita baixa ou a onda não apresenta uma forma adequada com apenas uma estimulação, podemos utilizar um recurso do equipamento chamado de “averager” ou promediação. Este recurso fará uma média dos potenciais de várias estimulações, dando uma forma mais estável ao potencial e eliminando as formas de ondas não-randômicas. Assim temos certeza que se trata de um potencial verdadeiro e não de interferência elétrica (artefato de estímulo).
• Quando mesmo utilizando a promediação nós não conseguimos obter um PANS, consideramos que ele está ausente. Nesses casos, não podemos calcular a velocidade de condução nervosa.
• Faça a medida da latência do PANS do estímulo elétrico até o pico do potencial de ação (latência de pico) ou da deflexão negativa inicial (latência de início). Em nosso laboratório preferimos a medida da latência de pico da onda, porém em algumas circunstâncias utilizamos a latência de início.
• Registre a amplitude de pico a pico do PANS. Alguns laboratórios preferem medir a amplitude do pico negativo até a linha de base.
• Calcule a velocidade de condução nervosa sensitiva e compare com os valores normais para o método.